TDAH em adultos: sintoma individual ou reflexo de uma sociedade exaustiva?
- Psicóloga | Laiany Maiara

- 8 de jul. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 28 de ago.

O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) tem como principais características a desatenção, a hiperatividade e a impulsividade. Existem três variações: o tipo predominantemente desatento, o hiperativo/impulsivo e o combinado.
Embora frequentemente associado à infância, cerca de 50% dos casos se estendem até a vida adulta. Muitas vezes, o diagnóstico só é reconhecido na adolescência ou já na fase adulta, mas para ser considerado TDAH é necessário que manifestações tenham ocorrido antes dos 12 anos de idade.
Em adultos, os sintomas podem incluir dificuldade de concentração, problemas para concluir tarefas (comprometimento das funções executivas), oscilações de humor, impaciência e dificuldades nos relacionamentos. Esses sinais, somados a um contexto de cobrança constante, podem levar a maiores taxas de desemprego, baixa autoestima, uso abusivo de substâncias e dificuldades acadêmicas.
No entanto, é importante refletir criticamente: até que ponto estamos falando de um transtorno e até que ponto estamos falando de um modo de existir em choque com uma sociedade exaustiva, produtivista e desigual? Muitas pessoas, especialmente negras e periféricas, convivem desde cedo com sobrecarga, múltiplas jornadas de trabalho, racismo estrutural e falta de acesso a recursos de apoio. Não é incomum que a desatenção, o cansaço ou a dificuldade em organizar a rotina sejam também efeitos de um sistema que cobra eficiência constante, mas não garante condições mínimas de descanso, lazer e cuidado.
O risco de confusão diagnóstica também é frequente: em adultos, o TDAH pode se confundir com transtornos de ansiedade, depressão ou mesmo com reações a contextos de estresse crônico. Por isso, um olhar atento à história de vida é essencial. Sintomas como baixa tolerância à frustração, teimosia, agressividade, distúrbios do sono, ansiedade e depressão não devem ser vistos apenas como falhas individuais, mas também como respostas psíquicas a ambientes adversos.
A psicoterapia para adultos com TDAH não se restringe a técnicas de organização da rotina ou controle comportamental. Ela é também um espaço de elaboração dos sentimentos envolvidos na relação com o diagnóstico, de construção de estratégias de vida que façam sentido para cada realidade e de crítica às pressões sociais que frequentemente intensificam o sofrimento.
Mais do que “corrigir” sintomas, a terapia pode ajudar a ressignificá-los, reconhecendo que desatenção ou inquietação não são apenas falhas, mas também formas de resistência ou sinais de que algo no ritmo de vida precisa ser revisto.



