"Qual é o meu diagnóstico?" Entre sintomas e desigualdades, o que a saúde mental revela sobre nossa sociedade.
- Psicóloga | Laiany Maiara
- 21 de abr. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 28 de ago.
O autodiagnóstico psicológico pode ser perigoso, pois leva a conclusões imprecisas baseadas em informações limitadas ou até errôneas. Muitas vezes, o excesso de informação na internet pode aumentar a ansiedade e o estresse, criando preocupações infundadas sobre a saúde mental. Consultar um profissional de psicologia é fundamental para obter um diagnóstico cuidadoso e um plano de tratamento eficaz.
Mas é importante lembrar: o diagnóstico psicológico não deve ser visto apenas como uma etiqueta individual. O sofrimento psíquico sempre está atravessado por questões sociais, históricas e culturais. A dificuldade em se manter em espaços elitizados, a pressão por produtividade, o racismo, o sexismo e a desigualdade de oportunidades podem intensificar ou até mesmo produzir sintomas que muitas vezes são lidos apenas como transtornos isolados. Reconhecer esse contexto é essencial para que o diagnóstico não seja uma sentença, mas um ponto de partida para compreender a pessoa em sua totalidade.
Alguns transtornos comuns e suas manifestações:
Transtorno de Ansiedade
Medo persistente em relação ao futuro.
Sintomas físicos como palpitações, sudorese e falta de ar.
Pode ser desencadeado por experiências estressantes ou traumáticas.
Afeta a vida cotidiana e os relacionamentos.👉 Em uma sociedade que cobra perfeição e produtividade constante, não é difícil entender por que a ansiedade se tornou tão frequente.
Estresse
Resposta do corpo a pressões físicas, emocionais ou ambientais.
Pode ser agudo (curto prazo) ou crônico (longo prazo).
Sintomas: irritabilidade, fadiga, dores de cabeça, dificuldade de concentração.👉 Em contextos de desigualdade, o estresse deixa de ser episódico e se torna estrutural, resultado de viver em alerta constante.
Transtorno Depressivo
Sentimentos persistentes de tristeza, desesperança e falta de interesse.
Afeta sono, apetite e energia.
Pode estar relacionado a fatores genéticos, ambientais e sociais.👉 A depressão não é apenas uma questão bioquímica: viver em espaços hostis, marcados pelo racismo ou pela exclusão, pode ser fator decisivo no adoecimento.
Síndrome de Burnout | Esgotamento Profissional
Exaustão física, mental e emocional ligada ao trabalho.
Surge de longos períodos de sobrecarga e falta de reconhecimento.
Sintomas: cansaço extremo, cinismo, queda no desempenho.👉 Em sociedades elitizadas, muitas pessoas negras e periféricas sentem que precisam trabalhar o dobro para serem reconhecidas — o burnout, nesses casos, não é só pessoal, mas social.
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)
Dificuldade em manter atenção e controlar impulsos.
Sintomas em adultos: distração, desorganização, inquietação.
👉 É preciso cuidado: a falta de concentração muitas vezes também se relaciona com rotinas exaustivas e com a pressão social que impede o descanso.
Transtorno de Personalidade Borderline (TPB)
Padrões instáveis de humor e relacionamentos.
Medo intenso de abandono.
Emoções intensas e impulsividade.
👉 As oscilações emocionais não podem ser lidas sem considerar o contexto: viver à margem, em constante luta por pertencimento, impacta diretamente a forma como nos relacionamos.
Um olhar além da etiqueta diagnóstica
Os diagnósticos são importantes para organizar o cuidado, mas eles não devem aprisionar a subjetividade. Sintomas não surgem em um vácuo: eles refletem tanto histórias pessoais quanto condições sociais de vida. A psicoterapia, nesse sentido, pode ser um espaço de reconhecimento e transformação — não apenas para lidar com sintomas, mas para questionar os cenários que adoecem.